quarta-feira, 7 de maio de 2014

Por uma estética gorda (primeiros versos)

Não existem pessoas gordas, não existem mulheres gordas, nenhuma lição nos foi ensinada em nenhuma escola de arte acerca de seus corpos. As gordas flutuam entre o não-ser e um ser-mítico, um ser-fetichizado. Um ser-não-sendo. Os cânones (que deveria estar mortos e enterrados mas ainda suscitam grandes discussões) negam os corpos gordos.
Toda vez que uma pessoa gorda é retratada, em qualquer linguagem artística, ela é retratada dentro da mesma  lógica das pessoas magras. Os ângulos são os que favorecem a magreza. As linhas buscam curvas perfeitas. A gordura é a gordura aceitável, ou é a gordura velada. As cores lhes são negadas. Ou são aceitas para retratos fetichizantes. Não há espaço para a busca da verdade gorda, de uma estética gorda.
A estética gorda é um grande mistério, ela se esconde embaixo de peitos caídos até o umbigo, em celulites que provocam tremor indesejável ao traço. Ela se esconde entre bundas que escondem o mundo. Está no meio dos lábios vaginais ocultos pelas coxas grossas. A estética gorda se esconde. A estética gorda se escondeu por tempo demais. É hora de parar de se esconder e descobrir-se.

{...}


Este é o primeiro rascunho que busca colocar no mundo o projeto. Longe de ser um manifesto, essas primeiras estrofes de um verso-imagético querem empoderar primeiro a mim, para que eu saia ao mundo e assuma que a luta por uma estética gorda é minha... é artística, é política. E é também por mim.

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