Não existem pessoas gordas, não existem mulheres gordas, nenhuma lição nos foi ensinada em nenhuma escola de arte acerca de seus corpos. As gordas flutuam entre o não-ser e um ser-mítico, um ser-fetichizado. Um ser-não-sendo. Os cânones (que deveria estar mortos e enterrados mas ainda suscitam grandes discussões) negam os corpos gordos.
Toda vez que uma pessoa gorda é retratada, em qualquer linguagem artística, ela é retratada dentro da mesma lógica das pessoas magras. Os ângulos são os que favorecem a magreza. As linhas buscam curvas perfeitas. A gordura é a gordura aceitável, ou é a gordura velada. As cores lhes são negadas. Ou são aceitas para retratos fetichizantes. Não há espaço para a busca da verdade gorda, de uma estética gorda.
A estética gorda é um grande mistério, ela se esconde embaixo de peitos caídos até o umbigo, em celulites que provocam tremor indesejável ao traço. Ela se esconde entre bundas que escondem o mundo. Está no meio dos lábios vaginais ocultos pelas coxas grossas. A estética gorda se esconde. A estética gorda se escondeu por tempo demais. É hora de parar de se esconder e descobrir-se.
{...}
Este é o primeiro rascunho que busca colocar no mundo o projeto. Longe de ser um manifesto, essas primeiras estrofes de um verso-imagético querem empoderar primeiro a mim, para que eu saia ao mundo e assuma que a luta por uma estética gorda é minha... é artística, é política. E é também por mim.
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