segunda-feira, 26 de agosto de 2013

... 2013

As vozes ecoavam pela janela enquanto em minha mente ressoavam versos de brilho, luto e desapego. Um desapego doído, quase dilacerante do corte da última membrana que me prendia a algo que fui e jamais seria. Enquanto as palavras hesitavam em fluir carecendo da lubrificação correta (que de certo modo já havia partido, então era praticamente uma luta inútil) brilhos e brocados enchiam meus olhos. Não ousaria contar quantos dias, mas eram poucos, bem poucos, bem menos de uma semana para o acontecimento.
Um pouco engraçado seria pensar o quanto nos prendemos a certos ritos, por mais pós-ritualísticos que nos pretendamos. Você finge que com você é diferente, mas com essa margem tão pequena de dias (juro, não ousaria jamais contar) os prazos e prosas se entrelaçavam ao luto e à lógica que ainda reiterava o quão sem sentido seria este sofrimento depois de mais de um mês vivendo juntos.
Consciente e plena da escolha e da felicidade que era estar ao seu lado meus maus hábitos (principalmente aquele que me prende aos sofrimentos por escolha) pareciam querer sobreviver a qualquer custo num cenário onde eles eram impossíveis. Sabe impossíveis? Impossíveis, aquelas velhas dores dos abusos e cortes e a dependência e o peso das piores escolhas. Não o sofrimento, porque este é muito muito particular, mas bem o mal, um peito quente e acolhedor, seu perolado e a certeza de que no grito e no silêncio minha mão encontraria as mãos que escolhi segurar (e que me escolheram segurar).
A febre (uma febricolazinha) persistia queimando-me as pernas e o torso. Eu caminhava pela casa (ora me arrastando, ora saltitando como baquetas de tambor) quase sempre nua-semi-nua. De seios de fora para refrescar a febre. Cobria metade do corpo, descobria metade do corpo. Se encarar o problema de peito aberto, ou fugir do problema num isolamento completo. Corria, circundava as verdade, circulava as tarefas.
A última membrana resistia, resistiria, como um pedaço de carne que não conseguimos deixar perfeito (entenda como  quiser) e ao mesmo tempo se transmutava com projeções de todos os tipos. Ela era em si o luto, era a luta do luto em não se concretizar, era o medo do luto simbólico virar real. Era a latência de uma dor que todos carregamos mas que poucos ousam encarar de frente. (acho que eu também tenho medo da morte)



Nenhum comentário:

Postar um comentário